Neurocirurgião Cesar Cimonari explica como a neurocirurgia pode beneficiar pacientes com epilepsia que não respondem a medicamentos
A epilepsia é uma doença causada por descargas elétricas anormais que provocam alteração nos neurônios. Essa desordem cerebral pode ocorrer por distúrbio genético ou ser adquirida por lesões cerebrais, como traumatismo ou ruptura de um aneurisma, além de condições metabólicas, infecciosas e até existência de tumores.
De acordo com o médico, a cirurgia para a epilepsia pode ser dividida em 3 grandes grupos:
No primeiro, quando há alguma lesão focal, como uma displasia ou malformação ou a esclerose do hipocampo causando as crises, é possível fazer uma cirurgia que remove essas alterações.
No segundo caso, existem doenças que causam malfuncionamento mais importantes a grandes áreas do cerebro, nesse caso as cirurgias que desconectam as partes do cérebro que originam as crises do restante.
E finalmente, o último tipo é a modulação cerebral, que pode ser feita com a colocação de um marca-passo no cérebro, ou mais frequentemente no nervo vago no pescoço, mais comuns nos casos de crises generalizadas em que não há um local específico do cérebro.
Mas afinal, para quem é indicada essa cirurgia?
Dr. Cesar Cimonari: Todo paciente que necessita passar da segunda linha de tratamento (passar do segundo tipo de remédio) por falha das anteriores merece a discussão sobre o benefício em uma eventual cirurgia, e nos casos em que há lesão cerebral detectável isso pode ser feito até antes. Na pratica esses fatos não querem dizer que todo paciente nessas condições vão precisar de cirurgia.
Como assim?
Dr. Cesar Cimonari: Alguns estudos sugerem que cerca de 30% desses casos vão ter benefício na cirurgia, mas infelizmente, um pouco por desconhecimento e talvez medo da neurocirurgia tanto por pacientes quanto por alguns médicos menos acostumados com esses quadros, menos de 5% desses pacientes no Brasil chegam de fato a serem avaliados para a cirurgia.
A epilepsia pode ser causada por um dano cerebral?
Dr. Cesar Cimonari: Além das epilepsias primárias, quando há danos ao cerebro como tumores, trauma, sangramentos ou isquemias(AVCs) principalmente, pode ocorrer o que chamamos de epilepsia secundaria. Nessas situações, as vezes resolver a causa com cirurgia pode ajudar, como um tumor cerebral, mas em outras o tratamento pode ser bastante desafiador, com necessidade de seguimento multidisciplinar pelo neurologista e neurocirurgião em conjunto.
E quais são as principais causas da epilepsia, Dr?
Dr. Cesar Cimonari: Como mencionamos, nas epilepsia secundarias a causa pode ser uma lesão no cérebro, seja ela congênita (de nascença), tumores, traumas ou avcs. Nas epilepsias primárias, existem algumas síndromes como West, Dravet, Lennox-Gastaut, que são mais frequentes de início em crianças, mas algumas que são chamadas idiomáticas, quando não há causa conhecida, essas talvez sejam as mais comuns, e podem ser do tipo tônico-clônico generalizado – que é aquela de filmes – ou outros tipos como parciais, gelásticas (com uma crise de riso incontrolável) ou a de ausência.
Ou seja, mais conhecida em crianças, é isso?
Dr. Cesar Cimonari: Exatamente. E falando em crianças, tem um tipo mais benigno que é bem frequente em crianças menores, que são as crises febris, que se forem isoladas na maioria das vezes não vão se repetir mais ao longo da vida.